domingo, 29 de novembro de 2015

Tudo é possível, basta querer.

Temos um poder inacreditável.  A verdade é não acreditamos ser possível. 
Somos educados a ter uma baixa auto-estima.
Somos educados a não acreditar no nosso potencial.
Somos educados a acreditar que os outros são sempre melhor que nós.
Somos educados à competitividade com outros e nunca à competitividade intrínseca.
Somos educados a ser aquilo que os outros querem que nós sejamos.
Somos educados na esperança das coisas acontecerem sem lutarmos para as conquistarmos.
Somos educados à heteronomia e não à autonomia. 
Somos educados a não sermos educados, apenas a sermos escolarizados. 

Por isso, o objetivo deste blog, é lançar um convite a todos aqueles que numa determinada fase das suas vidas, não acreditam serem capazes de alcançar o que quer que seja. 
Lançar o convite a acreditar cada vez mais em nós.
Acreditar que tudo é possível.
Acreditar na nossa força natural e nunca esquecer aqueles que nos foram sempre criando recalcamentos, porque é por causa deles que hoje estamos capazes de reconhecer as nossas dificuldades e consequentemente evoluir. 
Acreditar que nem tudo está perdido.
Acreditar que somos uma verdadeira força da natureza.
Acreditar que somos um exemplo a seguir em algum momento.

O objetivo é também convidar-vos a registarem as vossas histórias, que possam inspirar outros. 
Partilhar o blog devia ser um dever de forma a se tornar num blog de comunidade de partilhas. 
Todos são capazes de escrever uma pequena história que pode ajudar outros a saírem do local que não estava premeditado estarem. 
A luz é o caminho que queremos seguir. 
Temos a responsabilidade de cada vez mais sermos o pássaro beija-flor. 
Temos uma responsabilidade perante os outros, isto porque tudo aquilo que possamos escrever, terá com toda a certeza um impacto no leitor, que poderá ajudar na sua transformação. 
Não sei como fazer para que todos possam registar os seus escritos neste local. Mas sei que a solução aparecerá. Vamos caminhando.
Para já poderei disponibilizar o email da gestora do blog (fatima.eres@gmail.com),  para onde poderão enviar os textos, em formato editável para se publicar neste espaço virtual. 

Por fim, este texto dedico exclusivamente a um ser maravilhoso.
Um ser, que durante a sua vida raramente acreditava em si. 
O Universo demonstrou o contrário. 
Demonstrou ser possível estar acima de todas as expectativas, independentemente daquilo que os outros pensam dela. 
Orgulho é talvez o adjetivo que define o sentimento que transborda dentro de mim.  
A ela dedico-lhe todo o meu amor. 
Um Amor Eterno. 
Bem hajas por existires. 
Deste a quem muitos chamam de louco 

Filipe Jeremias
Gratidão imensa. É o sentimento que expressa o que me invade o corpo e a alma neste momento.
Emerge um sentir de partilha.
É uma partilha que não pode ser confundida, como o caminho ideal a ser feito. 
É apenas mais um caminho e cada qual terá o seu com toda a certeza. 
Poderei escrever coisas que podem muitas vezes roçar o exagero. 
Poderei utilizar palavras que poderão denotar uma certeza de que o caminho a ser tomado é apenas este. Mas de todo. 
Tenho crenças. E essas crenças levam-me cada vez mais a acreditar que o caminho que estou a caminhar, é o segmento de reta certo e ideal para mim. 
Sei que muitos não concordarão comigo, no entanto outros tantos estarão em caminho paralelo ao meu, fazendo o percurso lado a lado. 
Respeito, mas tenho dificuldade em ser respeitado pela diferença que imano. 
São estas crenças que me levam a ser um Ser muito mais espiritual, muito mais elevado, muito mais feliz e sempre muito mais sábio. 
Este caminho da coerência, rapidamente é confundido com um caminho a arrogância. 
Mas como já lido bem com isso, quero mesmo partilhar esta bela história, porque sei que posso contagiar outros, da mesma forma que uma história semelhante, na sua essência, me contagiou a mim, melhor a nós.

No passado dia 27 de Novembro, nasceu mais um ser divino nesta terra, que trará ao mundo a sua luz, alegria a sua força e harmonia. Um novo ser gerado no amor. Um ser, que sabe bem qual o seu propósito entre nós. Uma alma luminosa que escolheu uma família incrível para realizar a sua evolução. Um Sagitário com ascendente em Peixes. 
É o nosso terceiro filho. 
Acreditamos que cada qual tem o seu propósito. 
Nenhum Pai ou Mãe se pode queixar dos filhos que tem. Eles são o nosso espelho. 
Cada um trás consigo uma missão. 
Cremos que o nosso primogénito, trouxe consigo o objetivo de nos transformar.
O segundo, veio mostrarmos de que o Amor é possível, na sua mais pura forma de ser.
O terceiro, dizem que é a mudança de paradigma, nós cremos que veio para nos transcender. 
Este ser, foi gerado num momento em que a consciência parental se encontrava num ponto muito mais elevado, isto porque acreditamos numa nova construção social, e nós enquanto pais, somos responsáveis por fazer o nosso trabalho. 
E o quarto? Qual o seu propósito?

Só foi possível realizar um sonho, porque um conjunto de pessoas o permitiu. 
Primeiro, nós estávamos muito mais dispostos e (pré)dispostos a receber muita informação nova sobre parentalidade incluindo a maternidade. 
Queríamos estar mais conscientes.
O porquê das coisas acontecerem desta ou daquela forma, questionar sobre as coisas mais rotineiras, se fazia ou não sentido acontecerem. 
Sentimos que a nossa existência, com o que vamos fazendo diariamente, com as partilhas que possibilitamos, tem ajudado outros a quebrar paradigmas e vivências já enraizadas.
Está na altura de as questionarmos e criarmos novas roupagens, de esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares, tal como escrevia Fernando Pessoa. 
É tempo da travessia.
Somos reféns de uma cultura pessoal e social, que não nos permite ver para além daquilo que fizeram de nós. 
Mas citando Jean Paul Satre, nós não somos responsáveis por aquilo que fizeram de nós. Mas seremos responsáveis com o que fizermos com aquilo que fizeram de nós.
O que nos impede de mudar? 
Nada. Diria eu. 
Melhor, o que nos impede de mudar, somos nós próprios. Nesse sentido, nós fomos as primeiras pessoas que possibilitaram que o sonho se realizasse.

Contactamos uma série de almas iluminadas, que nos fizeram perceber, que tal como na educação, a medicina é semelhante. Ainda algum (pré)conceito sobre muitas alternativas.
É necessário colocar em causa, tudo aquilo que temos como adquirido. 
Se não o fizermos, iremos sempre ficar à margem de nós próprios, voltando a parafrasear Fernando Pessoa. 
Curiosidade, é talvez a competência mais natural que o Ser Humano tem e que nos apagam rapidamente assim que começamos a ser escolarizados. 
Ainda me sinto curioso. Por isso, procuro respostas para aquilo que não me faz sentido. 
Provoco e muitas vezes quebro as regras. 
Desobedecer - Regra preponderante para que o mundo pule e avance como uma bola colorida entre as mãos de uma criança.

Acreditamos na educação desde o pré-natal, até à morte. 
Pais mais conscientes, dão filhos também mais conscientes. 
Acreditando nesta premissa, a nossa preparação foi diferente em relação às anteriores experiências. Tudo acontece a seu tempo citando Eclisiástes. 
Não temos duvidas que esta experiência será diferente que os anteriores. Apenas diferente. 
Para além de estabelecermos e conhecermos uma rede de novos contactos, foi importante definir ao longo do caminho o que queríamos. 

Passou-nos pela cabeça que o Tomé pudesse nascer em casa. 
Contactamos com algumas Doulas, e tentamos perceber o que seria necessário para fazer acontecer o nosso desejo. 
Rapidamente percebemos que os custos associados a esta ideia, sairia fora das nossas expectativas. Não que fosse preponderante, mas ajudou na decisão. 
Percebemos bem o objetivo de trabalharmos com pessoas experientes nesta área.
Também percebemos que aquilo que pretendíamos era um parto o mais humanizado possível. 
Para isso, foi necessário desenvolvermos um plano de parto de acordo com o seguinte esquema:
  • Possibilidade de ter liberdade de movimentos no trabalho de parto;
  • Possibilidade de beber líquidos;
  • Possibilidade de comer;
  • Possibilidade de ouvir música;
  • Possibilidade de ter luz suave na sala de partos;
  • Exames vaginais o mínimo possível;
  • Utilização de ocitocina apenas com a minha concordância;
  • Episotomia apenas se necessário;
  • Possibilidade de escolher a posição para parir;
  • Epidural só se eu solicitar;
  • Possibilidade de o bebé ser posto no meu peito após o nascimento;
  • Possibilidade de cortar o cordão umbilical quando este deixar de pulsar;
  • Possibilidade de o pai cortar o cordão umbilical;
  • Possibilidade de dar de mamar na primeira meia hora a seguir ao parto;
  • Possibilidade de não ser administrada antibiótico oftálmico;

Ao tentar escolher um espaço público para parir, e fazer valer os nossos direitos enquanto cidadãos do mundo, sabíamos que íamos fazer a diferença num sistema que já se encontra muito viciado e difícil de penetrar.
Da mesma forma que acreditamos numa escola pública, onde a todos pode acolher, e a cada qual dar a possibilidade de ser sábio e feliz, acreditamos num serviço público de saúde de qualidade. 
O nosso papel seria ajudar a mudar rotinas, procedimentos e protocolos de parto, dentro de um sistema que acreditamos ser público. 
Decidimos que o parto do Tomé Tolstoi Pinto Jeremias seria dentro de um hospital público, mas nas condições projetadas e desejadas por nós, de acordo com as recomendações da OMS. 

Ainda numa fase muito embrionária, a Fátima começou a ser seguida no Hospital de V.N.Gaia, a pedido do seu médico de família. 
As coisas começaram logo da maneira mais empoderada possível. 
Foi nos privado a entrada dos nossos dois filhos a assistir à ecografia do primeiro trimestre.
A reação possível e inata a Ser questionador, curioso e provocador, foi…… PORQUÊ?
Rapidamente fui levado até ao Diretor do hospital da área da Ginecologia/Obstetrícia, e com um discurso muito humano e científico lá me convenceu e sobretudo me justificou o porquê da regra. Precisamos das explicações.
Concordando ou não com as regras, temos uma enorme capacidade de nos adaptarmos às diferentes situações - Esta foi a frase que o Francisco Valente terminou o seu discurso. 
Nunca deixe de ser como é…..

Saí satisfeito com a nossa conversa. Afinal de contas matei a minha curiosidade. Mas sobretudo transmiti valores aos meus outros dois filhos, que assistiram a todo este cenário. 
Foi-nos “nomeada” uma médica, Marta Barbosa, cuja simpatia era extraordinária.
Cheguei a perguntar de onde vinha tanta energia alegre e tanta boa disposição para atender os seus pacientes. 
No entanto, rapidamente entendi que cada um mostra apenas aquilo que quer mostrar, e à terceira consulta, já não fui capaz de acompanhar a Fátima. 
Sentia que a minha postura questionadora, estava a ferir suscetibilidades e não nos estava a fazer progredir no nosso caminho. 
O caminho que desejávamos era o contrario ao que estava a ser criado. 
Percebi também a diferença entre simpatia e empatia.

Graças a uma Graça de primeiro nome, mas mais conhecida por Marina Santos, que partilhou connosco um testemunho de um parto de uma amiga, que por coincidência era filha de uma ex-professora minha de História de Arte, Constança Araújo Amador, fez com que identificássemos a pessoa que nos iria acompanhar neste percurso que já contava com mais de meio caminho percorrido.
Este testemunho foi preponderante para estarmos hoje a partilhar o nosso momento. 
A médica que acompanhou a Constança, foi a mesma médica que acompanhou a Fátima. Seu nome Alexandrina Mendes

Escrevemos um email para o Centro Hospitalar do Porto - Maternidade Julio Dinis, e no dia seguinte, recebemos a resposta. 
Raro. Muito raro conseguirmos uma resposta por parte de uma entidade pública e ainda por cima tão rápida.

O email:
Boa tarde
Somos pais de uma terceira criança, e neste preciso momento sentimo-nos com um nível de consciência mais elevado relativamente à parentalidade.
Muitas são as coisas que temos lido e muitas são as pessoas que temos contactado.
Neste sentido, andamos a ver a unidade onde pretendo parir, e por isso, gostava de saber se seria possível agendar um encontro com a Drª Alexandrina (a conselho de um episódio de maternidade de uma pessoa conhecida) e termos mais conhecimento sobre os vossos protocolos de parto, para decidirmos sobre o local do parto.
Aguardamos assim, a vossa compreensão e ajuda neste sentido.
Com os meus sinceros cumprimentos fraternos.
Fatima pinto 


Conseguimos o primeiro encontro com a Alexandrina para o dia 09.09.15, pelas 15h.
Leiam os números. Nada é por acaso.
Primeiro encontro feito. Empatia criada. 
Frase a reter - Não irei fazer nada por vocês. Poderei ajudar, mas quem terá de fazer o trabalho todo é a Fátima
Não imaginam o sentimento que fiquei. Dar empoderamento a um Ser que se julgava fraco, era o melhor que podia ter feito. 
A registar: Mudança de paradigma entre médico e paciente. Não cabe só ao médico decidir. Cabe ajudar o paciente a encontrar o seu caminho. 
O diálogo aparece, e o crescimento acontece.

Tal como disse, o percurso já ia a mais de metade. 
Muitas informações tinham sido (re)colhidas, e muitas conversas fomos tendo. 
As quarenta semanas estavam previstas para meados de Dezembro. 
Numa da nossas conversas, a Alexandrina disse-nos que nem sabe como aceitou o nosso pedido de ajuda, uma vez que gostava de estar presente no momento áureo e pela previsão da data, estaria ausente do país. 
Ausentava-se a 27 de Dezembro pelas 24h. 
Não ficamos tristes, porque sabíamos que tudo iria correr pelo melhor. 
Estava nas mãos do Universo. Aceitaríamos o que tivesse de ser. 

Fomos procurar para quando a mudança da Lua em Novembro, e verificamos que a Lua Cheia se dava a 25.11.2015. Esperávamos que algo acontecesse durante essa semana. 
Entretanto entre conversas e mais conversas, entre descanso premeditado por parte da Fátima (desde o inicio de Novembro), foi tempo de preparação do parto. 
Uma das coisas que queríamos que fosse diferente em relação às anteriores experiências, é que queríamos que o Tomé fosse alimentado a leite materno. 
Foi recomendado umas aulas com a enfermeira Carla da Silva
Quem recomendou a Carla disse-nos o seu extraordinário poder de comunicação com o outro e da sua vontade de encontrar pessoas que estivessem dispostas a fazer as coisas de maneira diferente. 
A Carla, trazia consigo muita experiência, sobretudo no assunto que mais nos preocupava, a amamentação
Ninguém vem até nós por acaso. Podemos não entender o porquê no momento, mas tudo se explica mais tarde. 
Assisti e participei numa dessas aulas com a Fátima, e estou inteiramente grato porque foi preponderante para intuirmos a posição que queríamos estar no ato parir o Tomé. 

Durante este processo, dei espaço de pensamento a quem tinha o direito a ter. 
Permiti que crescesse. Estava com ela. Acreditava que ela seria capaz de percorrer um caminho sozinha, sem nunca a desamparar. 

O Tomás e a Lara, estavam muito ansiosos pela chegado do seu maninho. 
Entretanto a semana da Lua Cheia chega. 
Creio ser importante acrescentar a este relato que a Fátima, tal como aconteceu com o Tomás e com a Lara, já tinha contracções desde as 19 semanas. 
Até essa semana, as contracções mantiveram-se inalteráveis. 
Segunda-feira dia 23, tivemos uma consulta com a Alexandrina que a pedido da Fátima a examinou, uma vez que já sentia o fundo da barriga a rasgar. 
Por precaução examinou-a para ver a evolução das coisas. 
Tinha feito 37 semanas domingo, 22 de Novembro. 
Exame feito. Tudo normal. Apenas o colo do útero muito fino e mole.

O que estava previsto era ser tudo o mais natural possível, sem qualquer tipo de intervenção de terceiros, nem tão pouco a intervenção de fármacos. 
O plano de partos estava concluído. Faltava apenas enviar para a maternidade. 
Foi semana de falar com o nosso bebé. Perceber o que ele queria. 
Algumas caminhadas foram feitas, muita ocitocina natural foi injectada no corpo da Fátima. 
Foi a semana de fazer o Amor
No dia da Lua Cheia, pelas 7h os primeiros sinais acontecem. O rolhão mucoso saiu.
Senti que também contribuí para este primeiro sinal. Também estava a ser útil.
Poucos foram os desenvolvimentos durante esse dia. 
As contracções continuavam, mas os sinais de trabalho de parto, eram nulos.
A tranquilidade pairava sobre os nossos espíritos. 
A minha rotina diária permanecia inalterável. 

No pequeno almoço do dia 27 de novembro, as feições da Fátima eram semelhantes a situações similares anteriores.
Soube que o Tomé iria nascer nesse dia e propus que pudesse seguir viagem comigo até ao ERES. Assim que chegássemos à escola, iríamos ter com a Alexandrina à maternidade e ver a evolução das coisas. 
O exercício do Tomás até à escola foi contar os intervalos das contracções. 
Cinco em cinco minutos. Assim que estacionei o carro, começam a ser mais ritmadas e com alguma dor. Daquele dia não passava, pensava eu. Apontei para as 13h30 o seu nascimento. 
Na viagem, por sms, foi agendado um encontro para as 10h na maternidade.

Chegamos por volta do horário estimado.
Estacionei o carro no local das urgências, e assim que houvesse um lugar disponível o segurança contactaria comigo via telemóvel. 
Mais uma coincidência. O segurança tinha de nome Filipe.
Assim que a Fátima estava no CTG, a Alexandrina foi ter com ela. 
Examinou-a e realmente os 4 dedos de dilatação demonstrava que daquele dia não passava. 
Tomando experiências passadas, com o grau ainda mais elevado do seu auto-conhecimento, sabíamos que a evolução seria rápida. 
A pergunta foi: O que querem fazer?
Havia a possibilidade de internamento imediato, ou então ir dar uma volta, comer qualquer coisa, conversar um pouco, tomar um banho, para ajudar a acelerar o processo. 
Enquanto pensávamos, a Alexandrina ensinou-me a massajar as costas da Fátima, sempre que ela tivesse uma contracção. Aquela massagem de facto fazia efeito e aliviava o incómodo da dor. 

Decidimos que iríamos ficar, uma vez que podíamos deambular pelo corredor do hospital. 
As contracções eram cada vez mais ritmadas e cada vez mais dolorosas. 
Saber respirar era fundamental. 
Foi-nos atribuído uma Box (termo utilizado pelos técnicos hospitalares), quando se referem a um quarto onde o parto se iria desenrolar. De facto as instaladas físicas eram muito boas. 
Mas o melhor estava para vir. 
Melhor equipa não podíamos ter tido - Verbalizou a Alexandrina. 
O Tomé sabia o que estava a fazer. Agora esta criança necessitava muito da ajuda da sua mãe. 
Era altura de colocar em prática tudo aquilo em que acreditava. 

Assim que entramos no espaço físico, conhecemos o Pedro. O enfermeiro responsável pela equipa. Tinha lido o nosso plano de parto, e estava em sintonia com o que queríamos. 
Nunca fizeram nada sem nos perguntar se estávamos ou não de acordo. 
O momento era só nosso. Um momento a dois, com a menor intervenção possível de terceiros. 
Foi um belo momento de namoro. 
A música escolhida para nos acompanhar foi Cat Stevens. (um concerto ao vivo) 
A primeira música Wind East and West
Entretanto passam por aquele espaço algumas pessoas que se vão apresentando, de forma a ficarmos a conhecê-las. 
Voz doce e simpática, a Celeste apresentou-se, dizendo estar disponível para o que fosse necessário. Raro estas coisas acontecerem. 
O Pedro explicou-nos perfeitamente tudo, para ver se estávamos em sintonia. 
Entretanto uma das visitas, foi feita pela Alexandrina e pela Sandrine Ferraz.
A Sandrine era a enfermeira parteira de serviço naquele dia. 
Disponibilizou a bola para maior conforto da Fátima, assim como para ajudar a acelerar o processo. 
Assim que se apresentou, segurou na cabeça da Fátima e com um olhar fixo e ternurento vocalizou com voz suave mas firme - Fátima, eu sou a Sandrine, quero estabelecer consigo uma relação de confiança. Estou aqui para ajudar, sempre que vir necessidade para o fazer.
Digo vezes sem conta, que a aprendizagem não está centrada nem na criança, nem no adulto. Está centrada na relação. Tem de haver um vinculo amoroso, para que a aprendizagem aconteça. 
Aqui aprendi o mesmo. 
Naquele momento foi criado um vínculo de amor entre a Fátima e a Sandrine. Foi preponderante para que as coisas resultassem da forma como resultaram.

As contracções agonizavam-se. O ritmo cardíaco era cada vez maior. A respiração acelerava. Sempre sem gritar, assim que dilatava a boca, a Fátima dava oportunidade para que o canal de passagem do seu Tomé, também dilatasse. 
O espaço e momento, foi sempre nosso. 
As vistas por parte destas pessoas eram espaçadas no tempo. 
Até que por volta das 13h10 a Sandrine coloca novamente as cintas, para ouvir o coração do nosso bebé. 
Disse que dentro de 30 minutos voltaria para saber como estavam as coisas. 
30 minutos - pergunta desesperada a Fátima. Acho que não chego lá.
Ela tinha plena consciência do que estava a sentir. Sabia que estava para acontecer. 
Incrível como era o seu estado de dor, mas ao mesmo tempo sabia o que queria e o que estava a acontecer naquele momento.

Já com a Alexandrina na sala, a Fátima solicita, de forma a tirar todas as dúvidas, um exame à médica que tanto confiou este tempo todo. 
Oito eram os dedos de dilatação. 
A Fátima estava sentada na cama. 
Eu encontrava-me por detrás dela, em verdadeiros atos de amor. 
Muitos beijos lhe dei, muitas massagens lhe fiz (deparamos mais tarde que provocaram marcas de tanta forma ser exercida), sempre tentei respirar ao seu ritmo, e sempre que fazia força, a minha energia era dada gratuitamente. 
Sentia-me parte integrante do momento. 
Mas apesar deste cenário todo, as forças da Fátima, começava a dar de si. 
Começava a sentir-se cansada e esgotada. 
Entretanto a bolsa rebenta e o líquido amniótico começa a descer.
Tudo bem. Liquido transparente - Foram as expressões utilizadas pelas profissionais.

Sentada à sua frente estava só a Sandrine a ver todo este trabalho maravilhoso por parte da mãe. Estávamos todos orgulhosos. Vários foram os incentivos que a Alexandrina e a Sandrine passaram para a Fátima. 
Queres tocar-lhe na cabeça - perguntou a Alexandrina à mãe.
Pegou na sua mão e a Fátima teve a oportunidade de tocar pela primeira vez na cabeça do seu Tomé, ainda dentro do canal. 
Sussurrei—lhe ao ouvido. Já vejo a cabeça do nosso bebé. Ele agora, mais do que nunca, precisa da tua ajuda
Neste momento, apesar das forças lhe faltar, pede para se deitar. 
Senti que o meu trabalho tinha terminado ali. Agora era um trabalho só entre mãe e filho. 
Posicionei-me do lado oposto à Alexandrina a ver o que iria acontecer. 
Já tinha experienciado um momento semelhante nos dois partos anteriores. 
Nunca me tinha sentido como desta vez. Também me sentia empoderado. 
Foram apenas mais dois ou três puxões para o Tomé vir cá para fora.
Assim que a cabeça e os ombros do meu filho saem, a Sandrine ajuda que o resto também saia.
Foi o único momento com a intervenção de uma terceira pessoa. 

Incrível meu Deus. 
O Tomé era mesmo igualzinho ao seus irmãos. 
Foi colocado logo em cima da mãe. 
O contacto, pele com pele era um desejo nosso. 
Tudo a seu tempo. 
Já sem música, o silêncio era a música erudita que pairava no ar. 
Que momento tranquilo. Todas as pessoas estavam felizes. Tudo tinha corrido bem.
O Tomé ficou seguramente em cima da mãe umas duas horas.
Entretanto, ao final de 45 minutos, tive a oportunidade de cortar o cordão umbilical do Tomé.
Muito sangue, muito alimento e muita energia foi passada através daquele canal único que nos une à nossa Mãe.
Repito. Tudo a seu tempo.
Só depois disto tudo acontecer, é que a placenta saiu. Tudo muito belo. 
Para os mais cépticos, o Tomé ao final de uns trinta minutos, começou a procurar a mama, para se alimentar. 
A esperança era enorme, e como quem espera sempre alcança, o Universo fez a vontade a estes serem maravilhosos. O Tomé começou a ser alimentado a peito, desde que nasceu. 

Sentia-se confortável junto da pele da sua mãe. 
Não chorava. E assim que passaram umas duas horas, tivemos o prazer de conhecer a Inês Falcão, pediatra de serviço. 
Olhar atento - Foi a expressão utilizada pela Inês, assim que pegou nele. 

Neste momento, e apesar de o termos feito, queremos muito agradecer à Marina Santos, por nos ter permitido conhecer o relato da Constança.
Sem dúvida nenhuma que a pessoa mais importante que passou por nós nesta história toda, foi a Médica Obstetra e Ginecologista Alexandrina Mendes
A sua tranquilidade e também o seu processo de transformação ajudou-nos a criar um laço de amizade, que com toda a certeza que perdurará no tempo. 
Queremos também agradecer à extraordinária energia que a Sandrine nos passou. Mãe de três filhos, deve ser um Ser muito especial e elevado. 
Sem sombra de dúvidas que queremos também agradecer, e apesar de não conhecermos o Diretor deste Centro Hospitalar, isto porque, formar uma equipa de qualidade, é das tarefas mais complicadas e difíceis num projeto coletivo. Nesse sentido um bem hajam a todos aqueles que passaram por nós nestes dias que ficaram marcados para todo o sempre nas nossas memórias. 

Para finalizar, não podia deixar de agradecer a todos aqueles que connosco estão diariamente. A todos aqueles que me aturam. Só foi possível estar presente e focado naquele momento, porque sabia que o mundo à nossa volta não tinha parado. 

E a ti minha alma gémea, é um orgulho enorme caminhar contigo este caminho da felicidade. 
Este blog, assim como este texto, é uma homenagem que faço à mulher que tu és. 
Foste uma inspiração para todas estas palavras, capaz de tanta força coragem e determinação. Um exemplo de mulher. 

Agora e sempre……
Com AMOR
Até já.

Filipe Jeremias

E nunca se esqueçam…..
Temos o direito a muita coisa, mas por ignorância não sabemos. 
Temos direto a ser nós próprios. 
A termos vontade, desejos e necessidades próprias.
Temos o direito a escolher o hospital onde queremos parir, assim como alimentar um novo sistema que tem de mudar. 
Mas só mudará se todos fizerem a sua parte. 
Questionem-se. E façam girar dinamicamente o mundo que gravita à vossa volta.